A inadimplência nos cartões no Brasil mostra um contraste preocupante.
O cartão de crédito nunca foi tão usado pelos brasileiros, Mas, ao mesmo tempo, nunca gerou tanta preocupação.
Em 2024, o Brasil ultrapassou a marca de 200 milhões de cartões ativos, e o uso do crédito segue em alta.
Só que, junto com esse crescimento, veio outro número que acende o alerta: a inadimplência nos cartões disparou e já atinge níveis alarmantes.
Cartão virou parte do orçamento
O cartão de crédito se tornou uma ferramenta indispensável no dia a dia. De acordo com pesquisas, 77% dos brasileiros têm três ou mais cartões ativos.
Para muitos, o limite do cartão funciona como uma extensão da renda, usado para compras do mês, emergências ou gastos domésticos.
Entre as famílias de baixa renda, o cartão é ainda mais importante: para 15% da população, o limite é um complemento da renda, e nas classes D e E esse número sobe para 28%.
O problema é que o que começa como ajuda pode virar uma armadilha cara quando a fatura não é paga em dia.
Inadimplência nos cartões dispara
Os dados mostram que menos pessoas estão conseguindo pagar as faturas em dia.
A pontualidade caiu de 80,9% para 78,1% em apenas um ano. São milhões de pessoas atrasando o pagamento.
O rotativo do cartão, quando se paga apenas uma parte da fatura, tem inadimplência acima de 60%.
Isso significa que mais da metade dos brasileiros que entram nessa modalidade não conseguem sair dela a tempo.
Mesmo com o valor médio das faturas caindo cerca de R$ 113, o número de endividados continua crescendo.
O país já soma mais de 78 milhões de pessoas com o nome negativado, e quase um terço dessas dívidas vem justamente dos cartões.
Por que tanta gente está se enrolando com o cartão
Os juros altos são o principal vilão. O rotativo é uma das linhas de crédito mais caras do país, e qualquer atraso vira uma bola de neve.
Além disso, os bancos reduziram limites e estão mais cautelosos. Com menos crédito e taxas maiores, renegociar dívidas ficou mais difícil, e muita gente acaba presa num ciclo de endividamento.
Outro problema é o comportamento de consumo: muitos brasileiros confundem o cartão com renda extra e acabam gastando além do que podem pagar.
Essa sensação falsa de poder de compra se transforma rapidamente em dívida e restrição no nome.
Mulheres e famílias de baixa renda são as mais afetadas
As mulheres tiveram a maior queda na pontualidade de pagamento, o que mostra que o orçamento feminino está sendo ainda mais pressionado.
Muitas estão usando o cartão para despesas básicas, como supermercado, farmácia e contas domésticas.
Entre as famílias de menor renda, o impacto é ainda mais forte: o limite do cartão virou um “refúgio” para quem não consegue equilibrar o orçamento do mês.
Uso cresce, mas controle financeiro cai
Mesmo com a alta da inadimplência nos cartões, o uso do crédito continua crescendo.
Segundo dados da Abecs, o volume de transações com cartão subiu 14,6% em 2024, alcançando R$ 2,8 trilhões, o maior valor da história.
Somando crédito, débito e pré-pago, o total ultrapassou R$ 4 trilhões pela primeira vez.
O parcelamento sem juros domina o mercado, representando 41% das compras no crédito.
Quase todas as transações (98%) são divididas em até 12 vezes.
Essa preferência mostra que o brasileiro planeja, mas depende do crédito para manter o consumo.
Com juros altos, porém, essa dependência se torna perigosa: basta um atraso para transformar o parcelado em dívida cara.
Cartão de crédito também é sinônimo de conveniência
Apesar dos riscos, o cartão continua sendo o meio de pagamento mais prático e popular.
O pagamento por aproximação cresceu 48% em 2024 e já representa 67% das compras presenciais.
A maioria dos usuários (89%) diz que adere pela rapidez e facilidade.
Os benefícios também impulsionam o uso:
- 88% valorizam programas de pontos e milhas;
- 74% gostam do acesso a salas VIP;
- 64% preferem cashback e descontos imediatos.
Mas o que era vantagem virou armadilha financeira para muitos: quanto mais o cartão é usado, mais difícil fica controlar o gasto e manter as contas em dia.
O que isso muda na sua vida
A alta da inadimplência nos cartões afeta diretamente o bolso das famílias e o funcionamento do crédito no país.
Com mais gente endividada, os bancos reduzem limites e aumentam as taxas, o que limita o consumo e atrasa a recuperação da economia.
Além do impacto financeiro, o endividamento traz consequências emocionais reais: ansiedade, estresse e conflitos familiares se tornam comuns quando o orçamento não fecha.
O ideal é que o cartão seja um aliado, não uma dependência. Ele pode facilitar a vida, mas também pode afundar o orçamento se for usado como renda fixa.
Como evitar cair na inadimplência nos cartões
- Pague sempre o valor total da fatura, se possível.
- Evite usar o rotativo do cartão.
- Antes de parcelar, confira se o valor cabe no seu orçamento mensal.
- Use aplicativos de controle financeiro para acompanhar seus gastos.
- Se a dívida já estiver alta, busque renegociar com o banco antes de atrasar.
Enquanto os juros permanecerem altos e as famílias dependerem do limite como renda, o cartão continuará sendo, ao mesmo tempo, um aliado e um risco.