O abono salarial do PIS/Pasep sempre foi visto como um “extra” importante no orçamento de milhões de trabalhadores formais. Um dinheiro que ajuda a pagar dívidas, reforçar a reserva ou colocar contas em dia.
A partir de 2026, porém, esse benefício passa por uma mudança importante: o limite de renda para ter direito ao abono deixa de seguir o valor de dois salários mínimos e passa a ser corrigido apenas pela inflação (INPC).
Na prática, isso significa que, com o passar dos anos, menos pessoas vão se encaixar nas regras do programa, mesmo que continuem na mesma faixa de renda em termos de salário mínimo.
O que é o abono salarial PIS/Pasep hoje?
O abono salarial é um benefício pago uma vez por ano para trabalhadores de baixa renda que:
- têm carteira assinada na iniciativa privada (PIS), ou
- são servidores públicos cadastrados no Pasep.
O valor pode chegar a até um salário mínimo, e é proporcional ao tempo trabalhado no ano-base:
- trabalhou 12 meses: recebe o valor cheio;
- trabalhou menos: recebe um valor proporcional.
Até o calendário de 2025, a regra de renda era clara: tinha direito ao abono quem recebeu, em média, até dois salários mínimos por mês no ano-base.
O que muda no PIS/Pasep a partir de 2026?
A mudança faz parte de um pacote fiscal aprovado para reduzir gastos públicos e concentrar o benefício em quem ganha menos.
Antes: limite ligado ao salário mínimo
Até 2025, o critério era:
- direito para quem recebeu até 2 salários mínimos em média no ano-base.
Ou seja: sempre que o salário mínimo aumentava, o limite do PIS/Pasep também subia junto.
A partir de 2026: limite corrigido só pela inflação
A partir de 2026:
- o limite de renda não acompanha mais o salário mínimo;
- passa a ser corrigido apenas pela inflação (INPC).
Enquanto o salário mínimo continua tendo ganho real (ou seja, aumento acima da inflação, seguindo as regras do governo), o teto de renda do PIS/Pasep sobe num ritmo mais lento.
Com isso, em termos de “salários mínimos”, o critério vai ficando mais apertado ao longo dos anos.
Regra de transição até 2035: de 2 salários para 1,5 salário mínimo
Essa mudança não acontece de uma vez só. Existe uma regra de transição:
- em 2026, o limite deixa de ser “2 salários mínimos” e passa a ser um valor em reais, reajustado só pela inflação;
- ao longo dos anos, esse limite vai ficando proporcionalmente menor em relação ao salário mínimo;
- a previsão do governo é que, por volta de 2035, só terá direito ao abono quem ganhar até 1,5 salário mínimo por mês, em média, no ano-base.
Ou seja: o PIS/Pasep tende a ficar cada vez mais focado em quem está na base da pirâmide de renda.
Quem pode perder o direito ao benefício com as novas regras?
Na prática, quem mais corre risco de ficar de fora são:
- trabalhadores que ganham próximo ao teto atual (perto de 2 salários mínimos);
- profissionais que recebem reajustes salariais acima da inflação;
- pessoas que somam salários (por exemplo, quem tem dois vínculos formais no ano-base).
Mesmo que o salário continue “parecendo baixo”, a combinação entre: salário mínimo subindo com ganho real, e limite do PIS/Pasep crescendo só com inflação faz com que a mesma renda em salários deixe de se encaixar no critério.
É importante entender isso para não contar com o abono como algo garantido todo ano.
O que não muda nas regras do PIS/Pasep
Apesar da mudança no limite de renda, vários pontos importantes continuam iguais:
Para ter direito ao abono, o trabalhador ainda precisa:
- estar inscrito no PIS/Pasep há pelo menos 5 anos;
- ter trabalhado com carteira assinada por, no mínimo, 30 dias no ano-base;
- ter recebido remuneração média dentro do limite de renda que será definido para cada ano;
- ter os dados informados corretamente pelo empregador na RAIS ou eSocial.
Além disso:
- o valor do abono continua sendo calculado com base no salário mínimo vigente no ano do pagamento;
- o modelo continua proporcional ao número de meses trabalhados.
Ou seja: a fórmula de cálculo do valor a receber não muda.
O que muda é quem consegue passar pela porta de entrada.
PIS/Pasep 2026: quem deve receber?
O abono de 2026 será pago com base no ano-base 2024.
Terá direito quem:
- estiver inscrito no PIS/Pasep há pelo menos 5 anos;
- tiver trabalhado com carteira assinada ou como servidor público por pelo menos 30 dias em 2024;
- tiver recebido remuneração média até o novo limite de renda corrigido pelo INPC;
- tiver seus dados enviados corretamente pelo empregador para a RAIS ou eSocial.
O valor exato do limite de renda em reais e o calendário oficial ainda serão definidos pelo governo e pelo Codefat, em reunião prevista para dezembro de 2025.
Como saber se você terá direito ao PIS/Pasep em 2026
Mesmo com as novas regras, o caminho para conferir o benefício continua simples, e vale a pena já se acostumar com essa checagem anual.
1. Aplicativo Carteira de Trabalho Digital
- Atualize o app Carteira de Trabalho Digital no seu celular.
- Acesse com seu CPF e senha do gov.br.
- No menu, vá em “Benefícios”.
- Clique em “Abono Salarial”.
Se você estiver habilitado, o sistema informa:
- se tem direito ao benefício;
- o valor;
- a instituição responsável pelo pagamento.
2. Aplicativos da Caixa (para PIS)
Quem trabalha na iniciativa privada e recebe PIS também pode consultar:
- Caixa Trabalhador;
- Caixa Tem.
Os dois trazem informações sobre:
- direito ao abono;
- datas de pagamento;
- e conta onde o valor será depositado.
3. Banco do Brasil (para Pasep)
Servidores públicos vinculados ao Pasep podem consultar pelo:
- aplicativo e site do Banco do Brasil;
- terminais de autoatendimento;
- ou canais de atendimento do banco.
Como se organizar financeiramente com as novas regras
A principal mensagem das mudanças é: não conte com o PIS/Pasep como algo garantido para sempre.
Algumas estratégias que fazem diferença:
1. Trate o abono como bônus, não como parte fixa da renda
Se você ainda se encaixa no benefício:
- tente direcionar o valor para reserva de emergência,
- pagamento de dívidas caras,
- ou metas específicas (como um curso, por exemplo).
Evite depender do abono para pagar contas fixas.
2. Acompanhe reajustes salariais e sua faixa de renda
Quando o salário sobe, é ótimo. Mas lembre-se:
- aumentos acima da inflação podem fazer você sair do público-alvo do programa mais rápido;
- vale revisar, ano a ano, se sua renda ainda está dentro do limite.
3. Crie sua própria “13ª parcela extra”
Se você perder o PIS/Pasep em algum momento:
- tente simular o valor que costumava receber;
- divida por 12 meses;
- e separe esse valor todo mês numa poupança ou conta de investimento simples.
Na prática, você cria a sua própria “parcela extra” no fim do ano.
Perguntas rápidas sobre o novo PIS/Pasep
Vou perder o abono já em 2026?
Depende da sua renda no ano-base de 2024 e do valor exato do limite corrigido pela inflação. Quem ganha muito próximo de dois salários mínimos é quem mais corre risco de ficar de fora nos próximos anos.
O valor do abono vai diminuir?
Não. O valor de quem tem direito continua atrelado ao salário mínimo e à quantidade de meses trabalhados. O que muda é quem consegue se encaixar nos critérios.
Quem ganha até 1 salário mínimo deve continuar recebendo?
Em geral, sim. As mudanças miram quem está mais perto do teto. Mas é sempre importante conferir, ano a ano, quando abrirem as consultas.
Ainda preciso ter 5 anos de cadastro no PIS/Pasep?
Sim. Esse requisito continua valendo.
As novas regras do PIS/Pasep a partir de 2026 mudam menos o valor do benefício e mais quem vai conseguir receber o abono.
Com o limite de renda corrigido apenas pela inflação e uma transição que tende a levar o teto até 1,5 salário mínimo em 2035, o programa fica cada vez mais concentrado em quem está na base de renda.
Para o trabalhador, o recado é direto:
- acompanhar sua faixa salarial;
- conferir todo ano se tem direito ao abono;
- e não depender desse dinheiro como se fosse garantido.
Usar o PIS/Pasep como um apoio, e não como parte fixa do orçamento, é um passo importante para organizar melhor as finanças e não ser pego de surpresa quando as regras mudarem de novo.




